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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Crônica: Sobre minha saudade dos lírios – Vilto Reis


Ando preocupado com algumas coisas, e elas dizem respeito unicamente a mim, não estou julgando ninguém; e por isso resolvi escrever esta crônica.

Ultimamente, estou incomodado. Faz tempo que não ficava ansioso por realizações, mas por algum motivo, que me escapa, tenho carregado certa angústia por cumprir a próxima tarefa. Sim, se não fossem as listinhas – que em alguns finais de semana começam com doze ou treze itens –, não conseguiria dar conta de todas as tarefas. Contudo, esta ânsia por fazer tudo que se é necessário faz com que você se sinta como um personagem de vídeo game, programado para por alguns botões chegar à próxima fase.

A diferença é que eu sou um ser humano, acredito.

Que fique claro, não estou reclamando da quantidade de coisas que tenho para fazer, pois no dia em que eu parar de produzir levem-me flores, será o meu enterro. Mas o que me falta é distanciação, afastamento.

Embora sem menção a este trecho, quando lia um texto de Paulo Brabo esta semana, lembrei-me dos lírios do campo. E que saudade deles. E eu nem os conhecia – acreditem, fui procurar uma foto no Google (esta aqui me pareceu uma boa para ilustrar o que digo).

Eu quis/quero pegar um caneca de café – com leite e bastante açúcar -  e me sentar no meio de um campo, bater um papo com um ou dois amigos; ou talvez simplesmente contemplar o silêncio deles; fugir das relações efêmeras, superficiais, e refletir, observando “os lírios do campo, como eles crescem; [e] não trabalham nem fiam[1]

E é este o momento que tenho vontade de desconectar. De me desligar de um mundo virtual onde a maioria está mais propícia a atacar uma ideia, do que construir uma.

Em minha cabeça, eu tomo um lírio na mão, mas não o arranco, apenas o acaricio, pois eu desconectei, não tenho a necessidade de vencer o outro; simplesmente estou ali.
É cheiroso.
***
(Recomendo que assistam: “Disconnect to connect”, abaixo)



[1] Mateus 6.28

Por Vilto Reis